O Blog Educação Integral e Novas Tecnologias foi criado como atividade do Curso Proinfo-40 h/MEC. O objetivo do Blog é compartilhar experiências vivenciadas na Superintendência Regional de Ensino no Projeto Escola de Tempo Integral, bem como as experiências vivenciadas ao longo de minha carreira profissional como professora.
domingo, 29 de janeiro de 2012
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Sugestão para aulas de Arte - Aulas 8 e 9
Aulas 8 e 9: Espelho, espelho meu... afinal, quem sou eu?
Os alunos ao final dessas aulas deverão estar aptos a:
- reconhecer que os diferentes grupos humanos possuem uma produção cultural: religiões. Mitos, artes e técnicas;
- conhecer as influencias culturais de diferentes povos na construção da identidade brasileira;
- perceber-se como um ser único e ao mesmo tempo parte integrante da identidade nacional; e
- identificar a cultura como espelho capaz de torná-los visíveis a si mesmos.
- Cesta básica (material necessário)
- caixa de presente, contendo um espelho, preparada pelo professor; papel branco A4; lápis preto macio ou grafite; canetas hidrográficas;.
- Pra começo de conversa (apresentação/motivação)
A motivação poderá ser feita retomando a obra musical de Antônio Nóbrega, cantor, ator, dançarino, poeta, pesquisador, multi-instrumentalista e, sobretudo, um apaixonado pelas raízes culturais brasileiras. Seu repertório musical vai do maracatu às cantigas de roda, explorando uma infinidade de linguagens e recursos cênicos.
A seguir, a letra de duas canções de autoria de Antônio Nóbrega, em parceria com Wilson Freire – “Quinto Império” e “Olodumaré”. Essas canções, juntamente com “Chegança” (das aulas 6 e 7) compõem as Cantigas do Descobrimento do Brasil.
Quinto Império
Antônio Nóbrega e Wilson Freire
Iaiá me dá teu remo.
Teu remo pra eu remar.
Meu remo caiu, quebrou-se
Iaiá lá no alto-mar!
Meu sangue é trilha
dos Mouros, dos Lusitanos.
Dunas, pedras, oceanos
rasteiam meu caminhar.
E sendo eu
que a Netuno dei meu leme,
com a voz que nunca treme
fiquei a me perguntar:
“O que será
que além daquelas águas
agitadas, turvas, calmas,
eu irei lá encontrar?”
ai, meu velho,
novo mundo hei de achar!
Eu decifrei
astros e constelações,
conduzi embarcações,
destinei-me a navegar.
Atravessei
a Tormenta, a Esperança,
até onde o sonho alcança
minha Fé pude cravar.
Rasquei as lendas
do Oceano Tenebroso,
pra El Rey, o Glorioso,
não há mais travas no mar.
Olodumaré
Antônio Nóbrega e Wilson Freire
Vou-me embora dessa terra...
- Olodumaré...
Pra outra terra eu vou...
- Olodumaré...
Sei que aqui eu sou querido...
- Olodumaré...
Mas não sei se lá eu sou...
- Olodumaré...
O que eu tenho pra levar...
- Olodumaré...
É a saudade desse chão...
- Olodumaré...
Minha força meu batuque...
- Olodumaré...
Heranças da minha nação...
Ainda me lembro
do terror, da agonia,
como um louco eu corria
para poder escapar.
E num porão
de um navio, dia e noite,
fome e sede e o açoite
conheci, posso contar.
Que o destino
quase sempre foi a morte,
muitos só tiveram a sorte
da mortalha ser o mar.
Na nova terra
novos povos, novas línguas,
pelourinho, dor, à míngua
nunca mais pude voltar.
E mesmo escravo
nas caldeiras das usinas,
nas senzalas e nas minas
nova raça fiz brotar.
Hoje, essa terra
tem mau cheiro, minha cor,
o meu sangue, meu tambor,
minha saga pra lembrar.
OBSERVAÇÃO: Os alunos deverão ter acesso às letras das canções, através de cópias ou dos textos escritos em um cartaz ou no quadro.
- Desafio criativo (desenvolvimento da atividade)
Sugerir aos alunos a realização da seguinte atividade, cumprindo as etapas abaixo:
1 – O que em sua aparência física se assemelha a uma determinada etnia? (cabelo, cor da pele, formato dos olhos, altura).
O que em seus hábitos culturais é herdado de um determinado grupo social? (preferências alimentares, religião, formas de convivência, gostos artísticos).
Relacionar as características étnicas que se considera ter, física e culturalmente.
“Sou índio quando...”
“Sou branco quando...”
“Sou negro quando...”
2 – Observar a caixa de presente preparada, anteriormente, pelo professor.
3 - Abrir discretamente a caixa de presente, olhando o seu conteúdo, sem contar aos colegas o segredo que ela esconde.
4 - Passar a caixa para o colega ao lado e assim, sucessivamente, até que todos tenham visto.
5 – Comentar, oralmente, o que viu e suas observações, em relação às características étnicas familiares e ouvir as observações dos colegas.
6 – Observar seu retrato, relacionando com a imagem vista no espelho: seu cabelo, a pele, o olhar, a expressão fisionômica. Reparar o desenho do nariz, do queixo, das orelhas.
7 – Desenhar seu auto-retrato com grafite, lembrando que ele, além de mostrar um rosto, pode também refletir uma personalidade, um jeito de ser. É importante atentar para detalhes, particularidades que caracterizam a fisionomia.
8 – Explorar, com lápis preto ou lapiseira, recursos de luz e sombra, utilizando texturas, sugerindo volumes.
9 – Recortar o contorno do auto-retrato desenhado e organizar com toda a turma uma colagem inspirada na obra de Tarsila do Amaral, encontrada na Internet: “Operários”.
10 – Trabalhar o fundo da composição, que poderá ser intitulada “Construtores de si mesmos”, utilizando cores, que farão contraste com os retratos em preto e branco.
11 – Criar uma moldura diferente para o painel usando, por exemplo, formas irregulares. Nessa moldura poderão ser escritas palavras que simbolizem a mistura étnica representada no trabalho coletivo.
12 - Analisar com os colegas a produção final, percebendo relações entre o quadro “Operários”, de Tarsila do Amaral e o painel “Construtores de si mesmos”.
OBSERVAÇÃO: Seria interessante a montagem de um outro painel, utilizando também as fotos trazidas pelos alunos. Esse painel só deverá ser montado se todos os alunos concordarem em recortar as fotos. Essa construção possibilitaria uma ótima análise de mudanças e semelhanças entre os relatos e os auto-retratos.
- Voltar para poder avançar (avaliação/sistematização)
Sistematizar e avaliar os conteúdos trabalhados nessas aulas, a partir da observação dos auto-retratos, lembrando aos alunos sobre:
1 – a importância de conhecermos e valorizarmos nossas origens culturais;
2 – as características étnicas dos nossos antepassados herdadas por cada um de nós;
3 – os hábitos adquiridos pela convivência com diferentes culturas;
4 – a percepção de características individuais e a sua tradução através do auto-retrato;
5 – a observação, em obras de artistas, de traços representativos de diferentes etnias; e
6 – a exploração de diversas expressões fisionômicas, transparecendo estados da alma, presentes nas obras dos alunos e dos artistas.
- Revirando o baú (reflexão)
Textos para refletir e discutir em grupo.
1 – Procura-se
Mércia M. Leitão
Eu brasileiro, procuro minha identidade. De onde vim, para onde vou?
Se gosto de tomar banho todo dia, beber um chazinho de ervas e deitar na rede, dizem que herdei a origem indígena.
Se acendo uma vela para Santo Antônio, adoro uma festa junina, dançar o Boi Bumbá, participar da procissão do Divino, falam que é por causa do meu sangue português.
Já, quando o ritmo do atabaque ecoa no jogo atlético da Capoeira, nos terreiros de Umbanda ou no rebolado do Samba e não consigo ficar parado, aí sou africano de corpo e alma.
Isso tudo sem falar do acarajé, vatapá, caruru ou quem sabe uma macarronada, pizza, e para variar um hambúrguer e até um sashimi, quando se fala de gostosuras que vieram de outros lugares para aqui ficar.
Na verdade, sou pouco de tudo e de todos os povos que deixaram sua marca na formação da identidade desse menino chamado Brasil.
2 - “Aprendi loas, toadas e cantigas de cirandeiros, aboiadores e cantadeiras; aprendi choros, músicas de banda cabaçal e ponteados de violeiros, pifeiros e “chorões”, passos, gingados e mugangas de sambadores, dançarinos e brincantes. Através deles aprendi a amar o meu País e seu povo.
O Brasil precisa ser ver melhor e se ver como nação, para neutralizar o abismo do poder econômico. A cultura é o grande poder mediador desta disparidade.”
(Antônio Nóbrega. Revista Guest, Ano II, nº 6, julho-agosto, 2003)
3 – Sou negro
Solano Trindade
“Sou negro.
Meus avós foram queimados
pelo sol da África.
Minha alma recebeu o batismo
dos atabaques, gonguês e tambores agogôs.
Na minha alma, ficou
o samba,
o batuque,
o bamboleio
e o desejo de libertação...”
- Esticando a conversa (desdobramentos/bibliografia)
O tema “Espelho, espelho meu... Afinal quem sou eu?” poderá ser desdobrado através de pesquisas e elaborações criativas. Aqui são destacadas algumas possibilidades:
1 – Reconhecer a força da herança negra em nossa formação cultural, fazendo a leitura e análise do texto
Presença Negra.
Quantos séculos serão necessários para avaliarmos a riqueza e a fecundidade das tradições culturais africanas? Elas retornam em ondas musicais e artísticas, sob formas sempre novas e diferentes, fiéis à sua inspiração primordial.
Civilizações importantes com suas histórias culturais se prolongaram no Brasil com a vinda dos negros para este país, e muitos artistas brasileiros desenvolveram sua obra na trilha de seus ancestrais africanos .
O lugar do negro no Brasil continua sendo um foco privilegiado para repensar o significado da nação que foi construída. Fortalecido o olhar estrangeiro e também pela sociedade local, o preconceito marca a identificação do negro segundo um imaginário cheio de estereótipos.
O transplante forçado de povos diversos do continente africano em regime de escravidão acarreta uma aculturação problemática em que representação de si mesmo conheceu vários percalços.
É longa a história destes descaminhos. Mesmo artistas negros ou mestiços do período colonial, como Aleijadinho e Mestre Valentim, não ousaram representar o homem negro em suas obras. Nem mesmo no século XIX os artistas da Academia tiveram tal liberdade.
Na atualidade, as raízes africanas e a contribuição negra na sociedade abrem caminho próprio de expressão nas artes brasileiras.
As contribuições da cultura negra foram e são fundamentais em nossa sociedade. As manifestações de origem afro-brasileira, quer façam parte de formas tradicionais de sociabilidade, como as chamadas festas folclóricas, quer se integrem ao cotidiano das grandes metrópoles, como a contracultura negra do hip-hop, estão presentes no cotidiano do nosso povo.
Adaptação de Brasil + 500, Mostra do Redescobrimento
2 – Conhecer a visão de artistas estrangeiros que passaram por nosso país e o importante registro histórico de época que fizeram e nos deixaram como herança, lendo e debatendo o texto
Olhares de viajantes.
Em uma época em que não existia a máquina fotográfica, os pintores, para reis e nobres, eram os fotógrafos que podiam perpetuar os seus feitos e fazer retratos dos membros da corte. Assim, os reis se faziam acompanhar de pintores e desenhistas que eram responsáveis pelo registro das imagens da época.
Em 1808, D. João VI transferiu a corte portuguesa para o Brasil. Em 1816, ele providencia a vinda da Missão Artística Francesa. Entre os artistas que aqui chegaram, certamente, o mais conhecido dos brasileiros é Jean Baptiste Debret (1768-1848), pois seus trabalhos, que documentaram a vida no Brasil, durante o século XIX, são muito reproduzidos nos livros escolares. A obra de Debret possui grande valor documental. Através dela tem-se uma ideia nítida da paisagem e da vida do Rio de Janeiro, dos tempos de D. João VI e do início do Império Brasileira.
Embora não assumisse nenhuma posição anti-escravista, Debret registrou com fidelidade o martírio da escravidão e grande parte de suas aquarelas são dedicadas às atividades dos escravos.
A obra de Debret é um retrato autêntico do espírito e dos costumes brasileiros do início do século XIX e assim, uma fonte indispensável para o conhecimento da História do Brasil.
Mércia M. Leitão, 2003.
3 – Explorar imagens e textos na Internet relativos a essas aulas, sobre obras artísticas e sobre artistas que desenvolveram trabalhos ligados à cultura negra, tais como Emanuel Araújo, Rubem Valentim, Mestre Didi e Heitor dos Prazeres.
4 – Levantar o conhecimento do grupo, listando influencias e hábitos de outras culturas assimilados no nosso cotidiano.
5 – Despertar o olhar para a representação que os artistas fazem de si mesmos, através da leitura do texto Espelho de Artista e da observação de auto-retratos de diferentes épocas.
Espelho de Artista
Na verdade, o auto-retrato sempre acompanhou o ser humano em seu desejo de deixar uma marca de sua própria imagem, mesmo depois da passagem de sua vida. Essa autorrepresentação foi tomando diferentes formas no decorrer do tempo e do espaço.
O retrato tornou-se realmente popular na época do Renascimento (séculos XV ao XVII) pois, nesse momento da história ocidental, o ser humano passou a ser o centro das atenções.
Como a fotografia ainda não existia, pintores eram contratados para registrar os rostos e corpos de pessoas importantes. Muitos artistas também pintaram auto-retratos, registrando sua imagem como pessoas humanas e como profissionais, pois nestas obras ficava evidenciada a capacidade artística de cada um deles.
O auto-retrato é o espelho do artista. Mas, ele não precisa ser um retrato que pareça ter sido fotografado. O autor tem liberdade de simbolizar vontades, paixões, emoções, sonhos e até de brincar com sua própria imagem como nas caricaturas. Um auto-retrato pode salientar formas de rosto e do corpo do artista. Formas que ele aprecia ou que ele rejeita em si mesmo.
Na verdade, qualquer que seja o modo de expressão, a época ou o lugar em que a arte se manifeste, ela tem tentado traduzir o mundo que se oculta atrás de cada rosto humano, o seu mistério e, por vezes, a sua angústia.
Texto adaptado do livro Espelho de Artista, de Kátia Canton, Editora Cosac Naify, São Paulo, 2001.
6 – Pesquisar, em jornais, revistas, Internet, caricaturas de pessoas famosas. Procure utilizar a mesma técnica para representar a si mesmo e também os colegas de turma.
- Apoio didático:
Livros:
BARBOSA, Rogério de Andrade. Bichos da África. São Paulo, Editora Melhoramentos, 1988.
CANTON, Kátia. Espelho de artista. São Paulo, Cosac e Naify Edições, 2001.
CASTANHA, Marilda. Agbalá um lugar-continente. Belo Horizonte, Editora Formato, 2001.
LEITÃO, Mércia M. E DUARTE, Neide. Um fotógrafo diferente chamado Debret. São Paulo, Editora do Brasil, 1996.
Filmes:
- Por um fio de memória
- Quilombo
Endereços eletrônicos:
Professor: Lembre-se também de fazer: Achados e perdidos (considerações do professor)
Chegamos ao final de mais uma sugestão de trabalhos para serem executados em turmas do PROETI.
Professor, isto é apenas uma sugestão. Utilize a sua capacidade criadora e sua intenção de aprender e ensinar.
Bom trabalho.
Postado por Susana Lúcia do Nascimento
Sugestão para aulas de Arte - Aulas 6 e 7
Aulas 6 e 7: Herdeiros da tribo.
Ao final dessas aulas, os alunos deverão estar aptos a:
- reconhecer a importância do legado artístico de uma sociedade para o entendimento do processo da evolução cultural;
- valorizar a diversidade cultural, como enriquecimento da experiência humana;
- perceber o trabalho estético da arte indígena; e
- estabelecer relações sobre a utilização da pintura corporal em nossa sociedade e nas sociedades indígenas.
- Cesta básica (material necessário)
- papel branco tamanho A4; tesoura; cola; papel pardo; lápis de cera; canetas hidrográficas; tinta guache nas cores: vermelha, preta, marrom e branca; faixas de cartolina (medindo cada uma 30 cm de largura por 1 m de comprimento, usadas verticalmente).
- Pra começo de conversa (apresentação/motivação)
A motivação poderá ser feita através da leitura do texto: O simbolismo da pintura corporal, a seguir.
Todas as sociedades humanas possuem padrões de cobrir, enfeitar e exibir o corpo. Estes adornos e seus simbolismos não são aleatórios nem devem ser dissociados do conjunto de valores culturais - uma vez que, através deles, compreendemos aspectos essenciais para a vida em sociedade.
Embora a pintura facial em nossa sociedade tenha importância e seja um elemento de identificação, sua função cultural é bem mais significativa para os indígenas.
A pintura corporal, assim como as tatuagens feitas pelos índios brasileiros, sobretudo na Amazônia e em Mato Grosso, são particularmente dignas de realce. Os elaborados desenhos geométricos, traçados nos corpos, traduzem um sofisticado trabalho estético de equilíbrio, harmonia e simetria. Muitas vezes estes desenhos representam partes do corpo (pele ou pelo) de certos animais de sua região e seu estilo de movimentar-se.
No cotidiano e para realização de rituais utilizam, na pintura corporal, tintas extraídas do urucum com óleo de pequi (cor vermelha), do jenipapo (cor preta) e da tabatinga (cor branca).
Além da decoração externa dos corpos, algumas tribos fazem também tatuagens com emprego de espinhos que são coloridas com jenipapo. São enfeites muito utilizados na época das festas do Quarup e do Javali, no Xingu.
Em algumas sociedades indígenas, que até hoje mantêm suas tradições, todos aprendem a pintar o corpo desde criança, pois essa habilidade é um elemento culturalmente transmitido.
Geralmente, as mulheres da tribo preparam as tintas e aplicam nos homens, pois isso lhes traz sorte na caça, na viagem ou até mesmo no amor.
A pintura corporal é uma forma de expressão artística e uma linguagem visual em estreita relação com outros meios de comunicação verbais e não-verbais.
Além disso, apresenta outras funções. Com efeito prático, a pintura corporal espanta os insetos e defende a pele dos efeitos do sol. Tem também a intenção mágica de afastar os maus espíritos. Mas, acima de tudo, é uma forma de expressão que pode ser “lida”, pois revela intenções, pacíficas ou guerreiras, sentimentos, emoções, situações festivas ou circunstâncias religiosas, importância social, entre outras mensagens elaboradas com capricho e minúcia.
(Texto adaptado do Livro Explicando a Arte Brasileira, de Lucília Garcez e Jô Oliveira, Ediouro, Rio de Janeiro, 2003)
A seguir, o professor estimulará a discussão em grupo, levantando as seguintes questões a serem pesquisadas:
1 – Com base no texto, percebemos que o modo como enfeitamos o corpo identifica o grupo social ao qual pertencemos. Que recursos de exibir o corpo são utilizados como identidade do seu grupo?
2 – Por que a pintura corporal dos povos indígenas é mais significativa culturalmente do que na nossa sociedade?
3 – A pintura corporal indígena apresenta as mesmas funções das usadas pela nossa sociedade? Quais as semelhanças e diferenças?
4 – Quem é o índio para você? Reflita sobre as diferentes formas como o índio é considerado na nossa sociedade, discutindo o preconceito e a exclusão social e tirando suas próprias conclusões.
- Desafio criativo (desenvolvimento da atividade)
Sugerir aos alunos a realização da atividade proposta a seguir:
1 – Dividir uma folha de papel ofício no sentido horizontal, em quatro tiras.
2 – Desenhar elementos gráficos de inspiração indígena (linhas, pontos, formas geométricas, pequenas figuras), repetindo-as em uma sequência, criando um padrão para cada uma das tiras, de acordo com o texto
“Curiosidades sobre o grafismo indígena”.
Os desenhos geométricos na arte indígena, normalmente, são traços que imitam a natureza, com um significado especial para cada povo. É comum entre os povos indígenas brasileiros encontrarmos desenhos que representam as gotas da chuva, o formato do cipó, a espinha de peixe, o movimento de cobras, a nervura das folhas, a casca das árvores, a pele da onça, o couro do tatu ou do jabuti.
Pesquise sobre grafismos indígenas que combinados formam interessantes composições decorativas: “palha de inajá”, “movimento de cobra”, “espinha de peixe”, “manchas de onça”, “casco de jabuti”, “pingos de chuva”, “cipó”.
3 – Colar as tiras decoradas sobre um suporte de cartolina preta, mantendo um espaço de 5 cm entre elas.
4 – Observar os trabalhos produzidos e a variedade de soluções encontradas, discutindo com o grupo símbolos da cultura indígena e da sociedade atual.
5 – Reunir os alunos em grupos de aproximadamente 5 pessoas. Escolher um dos participantes, desenhando o contorno do seu corpo sobre duas folhas de papel pardo emendadas.
6 – Recortar a silhueta desenhada.
7 – Decorar um dos lados da silhueta com elementos do repertório indígena, explorados pelo grupo nas faixas criadas anteriormente.
8 – Decorar o outro lado com elementos da cultura atual: tatuagens, grafite e outros símbolos.
9 – Montar uma ambientação, utilizando todo o material produzido na atividade. As silhuetas, por exemplo, poderão ser penduradas com fios para dar visibilidade aos dois lados; as faixas de cartolina preta decoradas deverão compor o cenário. Acrescentar textos, poesias, assim como sons e objetos pesquisados da cultura indígena.
Todo esse conjunto formará uma interessante instalação, forma contemporânea de apresentação do objeto artístico.
OBSERVAÇÃO: A composição musical “Chegança” poderá ser ouvida durante o desenvolvimento da atividade e também usada na ambientação do objeto artístico.
Chegança
Antônio Nóbrega e Wilson Freire
Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
tanomani, sou Tupi
Guarani, sou Carajá.
Sou Pancaruru,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-ô, Tupinambá.
Depois que os mares
dividiram os continentes,
quis ver terras diferentes.
Eu pensei: “vou procurar
um mundo novo,
lá depois do horizonte,
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar”.
Eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro...
Botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso,
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.
Mas de repente
me acordei com a surpresa:
uma esquadra portuguesa
veio na praia atracar.
Da Grande-nau,
um branco de barba escura,
vestindo uma armadura
me apontou pra me pegar.
E assustado
dei um pulo lá na rede,
pressenti a fome, a sede,
eu pensei: “vão me acabar”.
Me levantei
de borduna já na mão.
Aí, senti no coração,
o Brasil vai começar.
- Voltar para poder avançar (avaliação/sistematização)
É hora de avaliar e sistematizar conhecimentos.
Os símbolos existem em todas as culturas. Você trabalhou com códigos de linguagem artística indígena e da atualidade. Procure, agora, discutir e refletir com o grupo sobre:
1 – Que conclusões você pode tirar dessas duas realidades?
2 – Os desenhos indígenas apresentam delicadeza e sofisticação. São verdadeiras obras de arte. Quais os elementos da composição artística que estão presentes na arte indígena?
3 – Onde se percebe a utilização da composição decorativa indígena em outras modalidades de arte desse grupo?
4 – A forma de apresentação final dos trabalhos realizados pela turma (instalação) modifica o seu conceito de arte? Por que?
- Revirando o baú (reflexão)
Textos para refletir e discutir em grupo.
1 – Erro de português
Oswald de Andrade
Quando o português chegou
Debaixo d'uma bruta chuva
Vestiu o índio.
Que pena!
Fosse uma manhã de solicitação
O índio tinha despido
O português.
2 – Duas visões do mesmo fato
“...Andam nus, sem cobertura alguma.
Não fazem o menor caso encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como num mostrar o rosto (…) traziam os beiços de baixo furados (…) os cabelos seus são corredios.”
(trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel por época do Descobrimento do Brasil)
“Se quiseres figurar um índio, bastará imaginardes um homem nu, bem conformado e proporcionado de membros, inteiramente depilado, de cabelos tosquiados, com lábios e faces fendidas e enfeitados de ossos e pedras verdes, com orelhas perfuradas e igualmente adornadas, de corpo pintado, coxas e pernas riscadas de preto com suco de jenipapo”.
Trecho do relato feito pelo francês Jean de Levy, em seu livro Viagem à terra do Brasil, de 1578)
3 – Juca Pirama (trecho)
Gonçalves Dias
“Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.”
“Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.”
- Esticando a conversa (desdobramentos/bibliografia)
As articulações que podem ser feitas, a partir dessa conversa inicial sobre a cultura indígena, são inúmeras. Aqui, são destacadas algumas formas de desdobramento:
1- Utilizar elementos geométricos e da natureza, baseados em composições indígenas apresentadas no texto inicial “Grafismos indígenas”. Repetir esses elementos em faixas criando padrões decorativos.
2 – Interpretar a letra da música “Chegança”, de Antônio Nobrega e Wilson Freire, que enumera as diferentes tribos que ocupavam o território brasileiro na época do Descobrimento, percebendo o choque cultural ocasionado pela chegada dos portugueses. Discutir o assunto em grupo.
3 – Conhecer as peculiaridades da arte dos índios brasileiros, através da leitura do texto “A arte dos índios brasileiros”
A primeira questão que se coloca em relação à arte indígena é defini-la ou caracterizá-la entre as muitas atividades realizadas pelos índios.
Quando dizemos que um objeto indígena tem qualidades artísticas, podemos estar lidando com conceitos que são próprios da nossa civilização, mas estranhos ao índio. Para ele, o objeto precisa ser mais perfeito na sua execução do que sua utilidade exigiria. Nessa perfeição para além da finalidade é que se encontra a noção indígena de beleza.
Desse modo, um arco cerimonial emplumado, dos Bororó ou um escudo cerimonial dos Desana podem ser considerados criações artísticas porque são objetos cuja beleza resulta de sua perfeita realização.
Outro aspecto importante a ressaltar: a arte indígena é mais representativa das tradições da comunidade em que está inserida do que da personalidade do indivíduo que a faz. É por isso que os estilos de pintura corporal, do traçado e da cerâmica variam significativamente de uma tribo para outra.
GARCEZ, Lucília e OLIVEIRA, Jô. Explicando a Arte Brasileira. Ediouro. Rio de Janeiro, 2003.
4 – Fabricar tintas à maneira dos indígenas, como descrito no texto inicial da aula. Usar, experimentalmente, cascas, folhas, terra, sementes, elementos naturais, entre outros.
5 – Reconhecer o uso de conceitos da pintura corporal primitiva, como elemento simbólico de adorno na sociedade atual. Pesquisar formas de tatuagens e maquiagens.
6 – Explorar as imagens e os textos encontrados na Internet, que falam sobre lendas indígenas e associando-as ao trabalho plástico de artistas brasileiros.
- Apoio didático:
Livros:
- FITTIPALDI, Ciça. Coleção Morená. São Paulo, Editora Melhoramentos, 1986.
- MURAT, Heitor Luiz. Morandubetá (fábulas indígenas). Belo Horizonte, Editora Lê, 1993.
- ALENCAR, José de. O Guarani, Iracema, Ubirajara. Publicações de diferentes editoras.
- GARCEZ, Lucília. Explicando a Arte Brasileira. Rio de Janeiro, Ediouro, 2003.
vídeo:
- Xingu
Endereços eletrônicos:
Professor: Lembre-se também de fazer: Achados e perdidos (considerações do professor)
LEMBRETE: Solicitar a cada aluno que traga uma foto (de preferência de rosto) para a próxima aula.
Enquanto isso, o professor deverá preparar uma caixa de presente, contendo espelho e com o seguinte texto escrito em sua tampa: “Dentro dessa caixa você encontrará uma das marcas de sua identidade.”
Postado por Susana Lúcia do Nascimento
Postado por Susana Lúcia do Nascimento
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