Aulas 6 e 7: Herdeiros da tribo.
Ao final dessas aulas, os alunos deverão estar aptos a:
- reconhecer a importância do legado artístico de uma sociedade para o entendimento do processo da evolução cultural;
- valorizar a diversidade cultural, como enriquecimento da experiência humana;
- perceber o trabalho estético da arte indígena; e
- estabelecer relações sobre a utilização da pintura corporal em nossa sociedade e nas sociedades indígenas.
- Cesta básica (material necessário)
- papel branco tamanho A4; tesoura; cola; papel pardo; lápis de cera; canetas hidrográficas; tinta guache nas cores: vermelha, preta, marrom e branca; faixas de cartolina (medindo cada uma 30 cm de largura por 1 m de comprimento, usadas verticalmente).
- Pra começo de conversa (apresentação/motivação)
A motivação poderá ser feita através da leitura do texto: O simbolismo da pintura corporal, a seguir.
Todas as sociedades humanas possuem padrões de cobrir, enfeitar e exibir o corpo. Estes adornos e seus simbolismos não são aleatórios nem devem ser dissociados do conjunto de valores culturais - uma vez que, através deles, compreendemos aspectos essenciais para a vida em sociedade.
Embora a pintura facial em nossa sociedade tenha importância e seja um elemento de identificação, sua função cultural é bem mais significativa para os indígenas.
A pintura corporal, assim como as tatuagens feitas pelos índios brasileiros, sobretudo na Amazônia e em Mato Grosso, são particularmente dignas de realce. Os elaborados desenhos geométricos, traçados nos corpos, traduzem um sofisticado trabalho estético de equilíbrio, harmonia e simetria. Muitas vezes estes desenhos representam partes do corpo (pele ou pelo) de certos animais de sua região e seu estilo de movimentar-se.
No cotidiano e para realização de rituais utilizam, na pintura corporal, tintas extraídas do urucum com óleo de pequi (cor vermelha), do jenipapo (cor preta) e da tabatinga (cor branca).
Além da decoração externa dos corpos, algumas tribos fazem também tatuagens com emprego de espinhos que são coloridas com jenipapo. São enfeites muito utilizados na época das festas do Quarup e do Javali, no Xingu.
Em algumas sociedades indígenas, que até hoje mantêm suas tradições, todos aprendem a pintar o corpo desde criança, pois essa habilidade é um elemento culturalmente transmitido.
Geralmente, as mulheres da tribo preparam as tintas e aplicam nos homens, pois isso lhes traz sorte na caça, na viagem ou até mesmo no amor.
A pintura corporal é uma forma de expressão artística e uma linguagem visual em estreita relação com outros meios de comunicação verbais e não-verbais.
Além disso, apresenta outras funções. Com efeito prático, a pintura corporal espanta os insetos e defende a pele dos efeitos do sol. Tem também a intenção mágica de afastar os maus espíritos. Mas, acima de tudo, é uma forma de expressão que pode ser “lida”, pois revela intenções, pacíficas ou guerreiras, sentimentos, emoções, situações festivas ou circunstâncias religiosas, importância social, entre outras mensagens elaboradas com capricho e minúcia.
(Texto adaptado do Livro Explicando a Arte Brasileira, de Lucília Garcez e Jô Oliveira, Ediouro, Rio de Janeiro, 2003)
A seguir, o professor estimulará a discussão em grupo, levantando as seguintes questões a serem pesquisadas:
1 – Com base no texto, percebemos que o modo como enfeitamos o corpo identifica o grupo social ao qual pertencemos. Que recursos de exibir o corpo são utilizados como identidade do seu grupo?
2 – Por que a pintura corporal dos povos indígenas é mais significativa culturalmente do que na nossa sociedade?
3 – A pintura corporal indígena apresenta as mesmas funções das usadas pela nossa sociedade? Quais as semelhanças e diferenças?
4 – Quem é o índio para você? Reflita sobre as diferentes formas como o índio é considerado na nossa sociedade, discutindo o preconceito e a exclusão social e tirando suas próprias conclusões.
- Desafio criativo (desenvolvimento da atividade)
Sugerir aos alunos a realização da atividade proposta a seguir:
1 – Dividir uma folha de papel ofício no sentido horizontal, em quatro tiras.
2 – Desenhar elementos gráficos de inspiração indígena (linhas, pontos, formas geométricas, pequenas figuras), repetindo-as em uma sequência, criando um padrão para cada uma das tiras, de acordo com o texto
“Curiosidades sobre o grafismo indígena”.
Os desenhos geométricos na arte indígena, normalmente, são traços que imitam a natureza, com um significado especial para cada povo. É comum entre os povos indígenas brasileiros encontrarmos desenhos que representam as gotas da chuva, o formato do cipó, a espinha de peixe, o movimento de cobras, a nervura das folhas, a casca das árvores, a pele da onça, o couro do tatu ou do jabuti.
Pesquise sobre grafismos indígenas que combinados formam interessantes composições decorativas: “palha de inajá”, “movimento de cobra”, “espinha de peixe”, “manchas de onça”, “casco de jabuti”, “pingos de chuva”, “cipó”.
3 – Colar as tiras decoradas sobre um suporte de cartolina preta, mantendo um espaço de 5 cm entre elas.
4 – Observar os trabalhos produzidos e a variedade de soluções encontradas, discutindo com o grupo símbolos da cultura indígena e da sociedade atual.
5 – Reunir os alunos em grupos de aproximadamente 5 pessoas. Escolher um dos participantes, desenhando o contorno do seu corpo sobre duas folhas de papel pardo emendadas.
6 – Recortar a silhueta desenhada.
7 – Decorar um dos lados da silhueta com elementos do repertório indígena, explorados pelo grupo nas faixas criadas anteriormente.
8 – Decorar o outro lado com elementos da cultura atual: tatuagens, grafite e outros símbolos.
9 – Montar uma ambientação, utilizando todo o material produzido na atividade. As silhuetas, por exemplo, poderão ser penduradas com fios para dar visibilidade aos dois lados; as faixas de cartolina preta decoradas deverão compor o cenário. Acrescentar textos, poesias, assim como sons e objetos pesquisados da cultura indígena.
Todo esse conjunto formará uma interessante instalação, forma contemporânea de apresentação do objeto artístico.
OBSERVAÇÃO: A composição musical “Chegança” poderá ser ouvida durante o desenvolvimento da atividade e também usada na ambientação do objeto artístico.
Chegança
Antônio Nóbrega e Wilson Freire
Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
tanomani, sou Tupi
Guarani, sou Carajá.
Sou Pancaruru,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-ô, Tupinambá.
Depois que os mares
dividiram os continentes,
quis ver terras diferentes.
Eu pensei: “vou procurar
um mundo novo,
lá depois do horizonte,
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar”.
Eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro...
Botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso,
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.
Mas de repente
me acordei com a surpresa:
uma esquadra portuguesa
veio na praia atracar.
Da Grande-nau,
um branco de barba escura,
vestindo uma armadura
me apontou pra me pegar.
E assustado
dei um pulo lá na rede,
pressenti a fome, a sede,
eu pensei: “vão me acabar”.
Me levantei
de borduna já na mão.
Aí, senti no coração,
o Brasil vai começar.
- Voltar para poder avançar (avaliação/sistematização)
É hora de avaliar e sistematizar conhecimentos.
Os símbolos existem em todas as culturas. Você trabalhou com códigos de linguagem artística indígena e da atualidade. Procure, agora, discutir e refletir com o grupo sobre:
1 – Que conclusões você pode tirar dessas duas realidades?
2 – Os desenhos indígenas apresentam delicadeza e sofisticação. São verdadeiras obras de arte. Quais os elementos da composição artística que estão presentes na arte indígena?
3 – Onde se percebe a utilização da composição decorativa indígena em outras modalidades de arte desse grupo?
4 – A forma de apresentação final dos trabalhos realizados pela turma (instalação) modifica o seu conceito de arte? Por que?
- Revirando o baú (reflexão)
Textos para refletir e discutir em grupo.
1 – Erro de português
Oswald de Andrade
Quando o português chegou
Debaixo d'uma bruta chuva
Vestiu o índio.
Que pena!
Fosse uma manhã de solicitação
O índio tinha despido
O português.
2 – Duas visões do mesmo fato
“...Andam nus, sem cobertura alguma.
Não fazem o menor caso encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como num mostrar o rosto (…) traziam os beiços de baixo furados (…) os cabelos seus são corredios.”
(trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel por época do Descobrimento do Brasil)
“Se quiseres figurar um índio, bastará imaginardes um homem nu, bem conformado e proporcionado de membros, inteiramente depilado, de cabelos tosquiados, com lábios e faces fendidas e enfeitados de ossos e pedras verdes, com orelhas perfuradas e igualmente adornadas, de corpo pintado, coxas e pernas riscadas de preto com suco de jenipapo”.
Trecho do relato feito pelo francês Jean de Levy, em seu livro Viagem à terra do Brasil, de 1578)
3 – Juca Pirama (trecho)
Gonçalves Dias
“Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.”
“Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.”
- Esticando a conversa (desdobramentos/bibliografia)
As articulações que podem ser feitas, a partir dessa conversa inicial sobre a cultura indígena, são inúmeras. Aqui, são destacadas algumas formas de desdobramento:
1- Utilizar elementos geométricos e da natureza, baseados em composições indígenas apresentadas no texto inicial “Grafismos indígenas”. Repetir esses elementos em faixas criando padrões decorativos.
2 – Interpretar a letra da música “Chegança”, de Antônio Nobrega e Wilson Freire, que enumera as diferentes tribos que ocupavam o território brasileiro na época do Descobrimento, percebendo o choque cultural ocasionado pela chegada dos portugueses. Discutir o assunto em grupo.
3 – Conhecer as peculiaridades da arte dos índios brasileiros, através da leitura do texto “A arte dos índios brasileiros”
A primeira questão que se coloca em relação à arte indígena é defini-la ou caracterizá-la entre as muitas atividades realizadas pelos índios.
Quando dizemos que um objeto indígena tem qualidades artísticas, podemos estar lidando com conceitos que são próprios da nossa civilização, mas estranhos ao índio. Para ele, o objeto precisa ser mais perfeito na sua execução do que sua utilidade exigiria. Nessa perfeição para além da finalidade é que se encontra a noção indígena de beleza.
Desse modo, um arco cerimonial emplumado, dos Bororó ou um escudo cerimonial dos Desana podem ser considerados criações artísticas porque são objetos cuja beleza resulta de sua perfeita realização.
Outro aspecto importante a ressaltar: a arte indígena é mais representativa das tradições da comunidade em que está inserida do que da personalidade do indivíduo que a faz. É por isso que os estilos de pintura corporal, do traçado e da cerâmica variam significativamente de uma tribo para outra.
GARCEZ, Lucília e OLIVEIRA, Jô. Explicando a Arte Brasileira. Ediouro. Rio de Janeiro, 2003.
4 – Fabricar tintas à maneira dos indígenas, como descrito no texto inicial da aula. Usar, experimentalmente, cascas, folhas, terra, sementes, elementos naturais, entre outros.
5 – Reconhecer o uso de conceitos da pintura corporal primitiva, como elemento simbólico de adorno na sociedade atual. Pesquisar formas de tatuagens e maquiagens.
6 – Explorar as imagens e os textos encontrados na Internet, que falam sobre lendas indígenas e associando-as ao trabalho plástico de artistas brasileiros.
- Apoio didático:
Livros:
- FITTIPALDI, Ciça. Coleção Morená. São Paulo, Editora Melhoramentos, 1986.
- MURAT, Heitor Luiz. Morandubetá (fábulas indígenas). Belo Horizonte, Editora Lê, 1993.
- ALENCAR, José de. O Guarani, Iracema, Ubirajara. Publicações de diferentes editoras.
- GARCEZ, Lucília. Explicando a Arte Brasileira. Rio de Janeiro, Ediouro, 2003.
vídeo:
- Xingu
Endereços eletrônicos:
Professor: Lembre-se também de fazer: Achados e perdidos (considerações do professor)
LEMBRETE: Solicitar a cada aluno que traga uma foto (de preferência de rosto) para a próxima aula.
Enquanto isso, o professor deverá preparar uma caixa de presente, contendo espelho e com o seguinte texto escrito em sua tampa: “Dentro dessa caixa você encontrará uma das marcas de sua identidade.”
Postado por Susana Lúcia do Nascimento
Postado por Susana Lúcia do Nascimento
Magníficas suas postagens de TI.
ResponderExcluirTempos atrás era complicadíssimo trabalhar com estas turmas,devido a fator "novidade".
Debati muito e muito na ocasião sobre atividades diferenciadas,entre outros aspectos a favor de aulas ludicas.... Enfim, parabéns. Vou indicar seu blog com louvor no linguagem. Venha me visitar. Hoje sou aposentada,mas continuo pesduqisando e levando informações para colegas virtuais. Venha conhecer meu trabalho.
Voltei... Passei pelos outros blogs...estão iniciados e parados,que pena!
ResponderExcluirEste é o único que decolou....Não pare...continue....adiante....
Obrigada, Krika pelo incentivo.
ExcluirSou professora apaixonada pelo meu trabalho. Acredito na Educação e no Projeto Tempo Integral.
Passei pelo seu blog, amei.