1- Justificativa:
É importante desenvolver atividades voltadas para a música nos contextos educativos, uma vez que esta relação com o som, com a visualidade ocupa hoje um importante lugar nas manifestações culturais, já que neles circula um grande suporte de informações e de ações culturais. Assim, pela via da cultura e da arte, a palavra cantada deve estar presente no currículo escolar, uma trilha que nos conduzirá ao entendimento no processo de educar, da formação da sensibilidade de jovens e crianças nos diferentes espaços de formação. Procurar manter sua magia de maneira a senti-la, não como um elemento, um código a ser simplesmente sinalizado e interpretado por si só, mas associada à música, à sonoridade, à visualidade, à plasticidade que ela contém. São ações que poderão resgatar a palavra e o seus usos nas ações educativas.
2 - Objetivos:
- desenvolver atividades prazerosas pra aguçar a realidade sonora, tátil e plástica na imaginação do aluno;
- trabalhar esses gêneros textuais como estético e percepção do mundo;
- relacionar e valorizar os diferentes gêneros textuais e formas musicais;
- trabalhar as palavras como o som e sentido, manifestadas nas poesias, música, o seu diálogo com os diferentes gêneros;
- estimular a sensibilidade dos alunos para a linguagem poética, para as associações melódicas e rítmicas;
- diferenciar as diferentes canções de acordo com seu contexto histórico;
3- Material necessário
- Tesoura sem ponta
- computadores – sala de informática
- CD
- Vídeo: Nome Nã – Arnaldo Antunes
- Aparelho de som
- Papel colorido
- Cola
- Cartaz com desenhos de caixinhas
- Caderno Brochurão
- Lápis preto, canetas hidrocor, lápis de cor, lápis de cera
- Pincéis para papel ( marcadores tipo Pilot)
- Papel pardo
- fita crepe
- Papel A4 ( 1 folha por participante)
- Selecionar autores de poesia
- Canção “Comida” na interpretação de Marisa Monte ( letra e música)
- Livros da Poesia Concreta e da Poesia Práxis – Poesia de Mário Chamie
- Revistas e jornais velhos
- Canção “Criança não trabalha” ( Paulo Tatit e Arnaldo Antunes)
- Poemas “limeriques” e “Hai-kais” ( texto)
- Jogos
- Retroprojetor
- Lâminas
4- Tempo previsto: 16 horas
5- Aquecimento para o tema : disposição em círculo
1) Falar sobre o assunto, a importância desses gêneros, informando-lhes que no Brasil, a tradição ibérica dos trovadores deu origem aos cantadores. Esses eram poetas populares que iam de região em região para cantar seus versos, que apareciam em forma de trovas, samba de roda e repentes. Essa tradição dos trovadores e cantadores foi, durante muitas décadas, principalmente, no Nordeste, uma prática bastante comum, que envolvia adultos, jovens e crianças, reunidos nas praças das pequenas cidades ao final das tardes, independentemente de datas comemorativas, para assim, nessas ocasiões, entre famílias e grupos sociais. Nesses versos há grande força rítmica e agilidade mental para seduzir pela força das palavras, há uma memória viva e inteligente para a segurança da improvisação.
A palavra cantada, aliada ao jogo, também ocorria como composição estética nas brincadeiras das crianças. Muitos jogos infantis possuíam versos que eram falados pelos jogadores. Em jogos desenvolvidos nas ruas e calçadas, nos jardins e parques que podiam ser cantados, ritmados ou musicados. Jogos populares foram usados em brincadeiras por crianças e adultos em várias partes do Brasil. Os diálogos, escritos em versos, possuíam rimas, ritmo, assim, como nas composições poéticas. Brincar com os jogos era também brincar com as palavras, como nas composições poéticas. Brincar com jogos era também brincar com as palavras, como na brincadeira chamada “Padeiro, padeiro”: Padeiro! padeiro!: Quantos pães queimou por dia?/Vinte e um queimados/Quem foi que os queimou?/Foi o padeiro/ Padeiro! Padeiro! Eu já vou lá! Ou ainda na brincadeira “ A raposa e as galinhas”: Podes farejar, raposa/ Todo o nosso galinheiro/E até mesmo se quiseres/Permanecer o dia inteiro/Para a fome saciares /Nada, nada encontrarás/ Procura como quiseres/Que galinha não terás.
A cada palavra cantada vai se alterando ao longo dos tempos. Hoje, pouco se joga a Cabra Cega, o Bento Frade, a Amarelinha, com o rito mágico da poesia e da música que acrescenta e dá canto à prosa. Mas, em certa medida, ela é recuperada e outras formas, com outras inflexões, outros ritmos, outras modulações, outros gêneros.
As palavras exercem diferentes funções na relação entre texto e melodia, nas composições de poetas e músicos. À medida que as palavras são compostas em versos, em diferentes formas e gêneros, observamos uma variedade muito grande de associações melódicas e rítmicas, que são responsáveis pelos diferentes movimentos estéticos da poesia e da música. O texto e a melodia favorecem uma riqueza enorme de modulações.
2) Depois dessa explicação, promover um debate regrado a partir da seguinte problematização: Como s formas melódicas da palavra evoluem, tendo em vista esses estilos? Como a melodia pode transformar o texto, ou, ao contrário, como o texto se acomoda à melodia?
Acrescentar durante a discussão que em canções da MPB, da Bossa Nova, do Roque, por exemplo, o texto busca, na maioria das vezes, acomodar-se à melodia para atingir a persuasão. Vinícius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, assim como os demais compositores da Bossa Nova, promoveram uma revolução estética, pois passaram a entender a relação palavra e som não somente do ponto de vista melódico da integração da melodia, ritmo, harmonia e contraponto, o que revolucionou, também, tanto a escuta quanto o fazer musical, porque as letras das músicas passaram a ser valorizadas não pelas ideias ( significado), mas também pela sua sonoridade ( significante). A palavra ganha, assim, um outro valor de representação, ou de individualidade sonora. Assim, considerando a palavra valorizada pelo conteúdo e pela forma, temos consequentemente, uma maior valorização da interpretação.
Aproveitar a conversa e introduzir o assunto “Poesia Concreta”, dizendo que os poemas não apresentam versos, jogam com a forma e o fundo, aproveitando espaço gráfico em sua totalidade, brincam com o significante, rejeitando a ideia de lirismo. O poema concreto é como um quadro ou uma imagem que podem ser observados de cima para baixo, da direita para a esquerda, enfim, de várias formas. As experiências sonoras, como recurso, são amplamente exploradas por meio do grafismo, do aproveitamento visual da página em branco, de montagens e colagens. O poeta é um artesão da civilização urbana, sintonizada com seu tempo.
3) Para fixar o conteúdo discutido, o grupo será divido 4 subgrupos e distribuído entre eles revistas e jornais velhos, para que confeccionassem um mural sobre as canções da MPB, da Bossa Nova e do Roque. Em seguida os alunos fizeram a apresentação oral dos textos semióticos ( linguagem verbal e não verbal).
4) Utilizando o espaço da biblioteca, trabalhar com o título Poesia Práxis, outra vanguarda poética, que afirma que as palavras não são corpos inertes, imobilizados. As palavras são corpos vivos. Não são vítimas passivas do contexto. Assim, o poeta se preocupa com a palavra que gera outra palavra, valorizando, dessa forma, o ato de compor. Utilizando o retroprojetor, mostrar uma poesia práxis de Mário Chamie: um/dois/três/ o juro: o prazo/ o pôr/ o cento/ o mês/ o ágio/ porcentágio...
É importante que o professor tenha conhecimento que muitos poetas “pop” bebem na fonte dos poetas concretos, que bebem na fonte dos cubistas e futuristas. Temos poetas modernos que falam da vida cotidiana, assim como os poetas românticos utilizaram a palavra poética como protesto e denúncia.
Aproveitando o espaço coberto da escola, serão feitas produções de poesias práxis e concreta. Os alunos irão declamá-las e montar um mural de Poesias nos corredores da escola para que todos conheçam o gênero textual e passem a apreciá-lo.
5) Para introduzir o “RAP” - Rhytm and Poetry, Ritmo e Poesia - , os alunos serão colocados em círculo e ouvirão um “RAP”, após esse momento, será passada uma caixinha de perguntas sobre o “RAP”. Em seguida, ir para a sala de informática fazer pesquisa sobre esse gênero musical. Na própria sala de informática será aberta uma discussão em que os professor deverá levantar alguns, como por exemplo, é um texto de denúncia que surge na periferia das grandes cidades americanas, sendo também híbrido de ritmos jamaicanos e africanos. As letras, geralmente longas, tratam de temas cotidianos como a violência, a corrupção, a pobreza, a riqueza. É um tipo de discurso calcado nos problemas urbanos. O acompanhamento rítmico, nesse tipo de música, o ”RAP” situa-se nesse limite entre a fala e a canção.
6) Pedir aos alunos que pesquisem na Internet sobre o Repente, gênero embolada que, embora, não haja consenso entre os “rappers”, o “RAP” parece trazer também em suas músicas uma dose de métrica e da entonação dos repentistas dos cordéis nordestinos. Os alunos devem ser chamados atenção para que os textos dos repentes são improvisados e mais em tom de brincadeiras e desafios – como em uma batalha verbal que faz com que os emboladores, com doses de humor e ironia, provoquem-se, afrontem-se – sem dúvida, eles dialogam. Enfim, o texto verbal do “RAP”, marcado por esses desenhos melódicos, pelas vozes em eco, pela repetição das palavras e de várias técnicas de “discotagem”, tudo isso demonstra a tensão da palavra.
7) Abrir a discussão lembrando que são muitas as confluências entre estes arranjos na música e na poesia, que perpassam cada criação, misturando-se. São o Samba bossa, o Samba “reggae”, o “Pop-rock”, o “Rock-Punk”, o Samba “RAP”, nova modalidade do “RAP”, que tem expressão maior com Marcelo D2, o samba choro, a Bossa “Jazz”, o “Rock-regaee”, o Afro-blues, o “Britpop”, entre tantas outras vertentes que, nos aspectos melódicos e líricos das composições, mesclam ritmos urbanos e regionais.
8) Em sala de aula, solicitar aos alunos para transformarem o gênero textual “RAP” em um texto “Repente”, os quais deverão ser lidos em voz alta e depois fazer um mural . Outras atividades como: transformar repente em poesia e vice versa. Além de promover concursos com o gênero textual “Repente”, com o objetivo de desenvolver a oralidade, o poder de criticidade e criatividade.
9) Dando prosseguimento ao trabalho de poesia e canção, na sala de vídeo, os alunos assistirão um vídeo de Arnaldo Antunes, poeta e ex-integrante dos Titãs, enfatizando que a palavra vem travando diálogos significativos com outras linguagens, ou seja, a poesia está cada vez mais se ocupando de outros espaços de comunicação como : o computador, o vídeo, o poema cartaz, o “out door”, as canções. Chamar a atenção dos alunos para o fato de que devemos educar nossos ouvidos para a música, nosso olhar para as artes e os nossos olhos para a poesia, três formas de apreciação da arte que possuímos. Arnaldo Antunes diz que com a modernidade, essas manifestações tendem a se misturar. Vemos a poesia nos jogos educativos e folclóricos, podemos vê-la também no teatro, na dança, em projeções a laser, enfim, a poesia vai utilizando outras mídias, outros meios de comunicação e expressão.
Retomando o trabalho de Arnaldo Antunes, por exemplo, serão propostas atividades com o seu sugestivo 'vídeo-poema', chamado “Nome”. Nele, muita coisa poderá ser discutida a partir da ideia de que poesia é “intersemiótica”. Ou seja, ela dialoga com várias linguagens e signos. Nesse 'vídeo-poema', percebemos que o poeta cria muitos sentidos, unindo a poesia à visualidade, à imagem, à música. As imagens, portanto, ajudam a criar novos significados através de recursos como a repetição, a colagem e o jogo com as palavras. O poeta constrói e desconstrói as palavras, o verso, e dessa forma lhes atribui um novo sentido. A poesia, assim apresentada no vídeo, parece que foi jogada em um liquidificador e misturada a uma porção de ingredientes que são imagens, sons e cores. Através de associações e analogias, de sensações e impressões adquiridas a partir deste jogo 'intersemiótico', percebemos que as palavras são poéticas, polissêmicas e não simplesmente um 'nome”.
Em um dos trinta 'vídeos-poema', denominado “Nome Nã”, pode-se trabalhar a gramática contextualizada ( substantivos, adjetivos), além de um interessante jogo que envolve os sons e as ideias, quando o poeta diz em seus versos que os nomes não são bichos/ os bichos são: macaco, gato, peixe, cavalo, vaca, elefante, baleia, galinha/ os nomes das cores não são as cores/ as cores são: preto, azul, amarelo, verde, vermelho, marrom/ os nomes dos sons não são sons/ os sons são/ só os bichos são bichos/ só as cores são cores/ só os sons são/ sons são/ sons são/ sons são/ nome não/ nome não/nome não....
Os alunos devem perceber que , nesse 'vídeo-poema”, um dinâmico jogo que parte da ideia de que os nomes dados às coisas ou aos seres, por meio das palavras, são códigos que poderão ultrapassar os limites do sentido referencial, usual e atingir o contexto subjetivo. Ou seja, os nomes das coisas não são coisas em si, mas representam as coisas. De fato, as palavras são representações, são símbolos que nos pegam de surpresa quando as percebemos em seus mais inesperados sentidos. E isto só é possível quando é feita uma leitura “ao avesso”, uma leitura que subverte a sua ordem aparente. A palavra aqui está revestida de associações que refinam com delicadeza sutileza os significados e o significantes nela presentes, desvinculados do seu sentido normativo, lógico.
10) Partindo, assim, da ideia de que as palavras, muitas vezes, fazem parte de um jogo sensorial, outros jogos podem ser propostos. Sugerir aos alunos que, depois de apreciado o 'vídeo-poema', faça associações como: várias palavras brancas ( paz, nebulosa, vazio), as palavras gostosas (sorvete, bolo, lenga-lenga), palavras sonoras (tambor, estrondo, paralelepípedo) assim sucessivamente. Aquelas em que, por exemplo, o conceito de determinada palavra se estende ao significante ( imagem acústica da palavra) e não somente ao significado. É o caso de ser considerada como “gostosa”, a palavra lenga-lenga. Na verdade, o que é considerado gostoso nesta palavra não diz respeito ao seu sabor, mas ao seu som. Ou melhor, diz respeito ao sabor do som. Este tipo de associação é tanto mais possível quanto mais a criança esteja em contato com a palavra enquanto jogo, imagem e brincadeira. E os 'vídeos-poema' de Arnaldo Antunes muito favorecem o exercício dessas ricas associações.
O trabalho com as palavras nos jogos de mesa é bastante fértil e gratificante também. Propor atividades como Cara a Cara, Domingo Legal, Truco, paciência, Fedor, Mau, Loto, Banco Imobiliário, Cai não Cai, Dominó, entre outros, podemos criar interessantes situações de aprendizado. Uma dessas situações envolve o estudo de substantivos, de adjetivos e de sílabas tônicas. Invertendo a lógica normativa da gramática e objetivando entender o conceito, valorizando o sentido das palavras, propor o jogo a seguir.
Vários jogos de mesa são trazidos para a sala de aula. Num primeiro momento, as crianças se agrupam para jogar. Enquanto jogam, pede-se que elas vão listando as palavras mais importantes que surgem no jogo. Os jogadores vão estabelecendo uma comunicação entre eles que é propriamente a linguagem do jogo. Cria-se uma situação de diálogos e interação bastante interessante, pois já não é mais uma linguagem do cotidiano que se comunica, mas uma linguagem dos símbolos,dos gestos, do olhar. Este movimento é fundamental ao jogo.
Depois de os aluno terem jogado cerca de 100 minutos, eles passam a selecionar as palavras listadas por eles e agrupá-las de acordo com a tonicidade. E, assim, vão estabelecendo as associações e as correspondências sonoras entre as vogais tônicas e átonas. Depois são agrupadas, buscando semelhanças em sua sonoridade. São exploradas bastante pela pronúncia, formando jogo rítmicos, combinando seus sons, primeiro de duas a duas palavras, depois de três a três e assim sucessivamente. E, então, são selecionados : sons finais ( baixei, ganhei), sons com eco, como eles mesmos disserem, (bode/bigode – ouro/tesouro), sons nasais (falo, mando, canto/longo, longe, lambe), sons fortes ( paixão/canção - ação/gozação), sons abertos ( olho/molho/monto), sons fechados ( jogar/olhar) e assim por diante.
Estas classificações são elaboradas pelos alunos, tendo em vista o próprio sentido que atribuem às palavras pelo que elas traziam de sugestivo, de sensório, de imagem. Falar a eles que essas rimas são chamadas de agudas, graves, consoantes, toantes. Mas o que vale mesmo é o exercício de pronunciar a palavra, de sentir o seu timbre, a sua cor, o seu ritmo, o seu eco. Foi assim que eles percebem uma carga maior de significação, percebem a palavra e seus recursos como elementos sensíveis e, consequentemente, ficam mais à vontade e com mais autonomia para a brincadeira.
11) Num segundo momento, agora com o objetivo de perceber os nomes associados a um esquema rítmico musical, pode ser proposto ao grupo que ouça a música “Criança não trabalha”, de Paulo Tatit e Arnaldo Antunes, observando o ritmo, as rimas, os refrões e as divisões em estrofes. Ela diz assim: Lápis, caderno, chiclete, peão / sol, bicicleta; skate, calção / esconderijo, avião, correria/ tambor, gritaria, jardim, confusão/ bola, pelúcia, merenda, crayon / banho de rio, banho de mar, pula, sela bombom / tanque de areia / pirata, baleia, manteiga no pão... Criança não trabalha, criança dá trabalho/ criança não trabalha, criança dá trabalho...
Observando as sílabas das palavras que formam as rimas agudas com as oxítonas; as rimas graves, com as paroxítonas; as rimas esdrúxulas, com proparoxítonas), a forma do poema como um todo, as repetições e os refrões, pedir ao grupo que tente escrever versos, quadras, com os nomes e qualidades listados por eles durante o jogo.
Neste processo, é interessante perceber que , ao listarem os nomes, há uma associação espontânea entre a palavra e o seu significado, reforçada pelos recursos sonoros e pela experiência do jogo. Selecionar as palavras significou, na verdade, nomear a sua essência na ação de jogar. A palavra foi “ressignificada” no contexto da imaginação. Isto facilita a compreensão e a assimilação deste significado novo. Por outro lado, a composição/combinação que os alunos estabelecem entre as palavras foge do automatismo, adquire certa independência sintática, principalmente, em relação aos conectivos ou elementos de ligação. Isto pode ser percebido nos versos: novela canção / poesia emoção / a lembrança do coração.
Todas estas associações são possíveis porque nestas brincadeiras experimentamos, conhecemos as palavras por meio dos sentidos, formamos uma idéia e entendemos as palavras. Assim, a palavra atua num cenário de imagens e possibilidades. Isto, sem dizer que estudar substantivos e adjetivos ficou bem mais divertido, pois não é preciso se prender a nomeclatura. O véu é retirado das palavras, elas são descobertas e mostradas, primeiro são decifradas, sem dizer o que elas são imediatamente.
12) Utilizando o retroprojetor, aproveitar a oportunidade para introduzir os “limeriques”. Explicar para os alunos que quando aliamos palavra e som ao humor, formamos os “limeriques” – poemas de origem inglesa., que se compõem em estrofes de cinco versos rimados. São famosos os de Edward Lear. Eles copiam sempre a mesma estrutura métrica, mantendo uma correspondência rítmica. O primeiro verso informa que é o protagonista, o segundo indica a sua qualidade, o terceiro e o quarto versos dizem o que ele está fazendo e o quinto é reservado ao aparecimento de um epíteto final, geralmente extravagante. Apresentar o exemplo de um “limerique” de Lear
Uma vez um médico de Mococa
Queria tirar amígdalas da muriçoca
O inseto se revoltou
E o nariz pinicou
Daquele amigdalítico doutor da Mococa.
Além de propor uma pequena história, os “limeriques” se caracterizam pelo humor, pelo “nonsense”, pelas situações maliciosas, absurdas e engraçadas. Tudo é motivo para a criação de um “limerique”:
Um nariz muito grande
Um gordo elefante
Uma criança mimada
Uma vaca malhada
Um fedelho pedante.
Será o momento de fazer a leitura dos “limeriques”. Lê-los é sempre uma situação de novidade, um desafio, uma nova descoberta, pelo que eles revelam de humor, de inusitado, de brejeirice. Ler primeiro quantas vezes forem necessárias até chegar a decorá-los, se for o caso. Vejamos alguns deles escritos por Tatiana Belinky:
1- Um cara chamado Mariz
Estava com dor no nariz
Vou jogá-lo fora
Falou– e na hora
Fez isso e vive feliz
2- Ao ver uma velha coroca
Fritando um filé de minhoca
O Zé minhocão
Falou pro irmão
“Não achas melhor ir pra toca?”
3- De volta da festa de arromba
Soltando fumaça da tromba
Um gordo elefante
Marchava importante
Pensando que era bomba.
4- Um moço chamado Hipólito
Achou seu nome insólito
Pensou, repensou
E o nome mudou
Pra Tripodeglutifrutólito.
Sem seguir à risca a estrutura inglesa dos “limeriques” e buscando formas alternativas na estrutura, propor o seguinte, para os alunos. Elaborar cinco perguntas: Quem? Fez o quê? Onde? Quando? Por quê?
Sanfonar um papel sulfite e em cada face, no alto, escrever estas perguntas. Formar grupos de cinco alunos, cada aluno escreve um verso ao responder uma das perguntas e, assim, seria composta a estrofe. Um aluno responde à primeira pergunta: Quem? Dobra a face do papel que contém esta pergunta, passa para o outro, sem que o outro veja resposta dele, outro respondia à segunda : Fez o quê? E assim sucessivamente, até chegar à quinta pergunta, podendo fazer isso várias vezes até esgotar o espaço do papel. Quando as respostas estiverem respondidas, é a hora de lê-las para o grupo.
Fazendo estas leituras, a situação que se vê é, muitas vezes, de uma sequência desconexa das ideias contidas nos versos, mesmo porque as estruturas métricas foram mantidas com muita liberdade, sem ter a preocupação com a correspondência entre as rimas. Isto virá depois. E, sem querer limitar as possibilidades do absurdo, seguem lendo.
Alguns exemplos:
1- Sansão
Andou até Marte
Onde a baleia perdeu a cauda
Quando o sol perdeu seu brilho
Porque anoiteceu e a Lua adormeceu
2- Joselito
Jogou a casca da banana
Na barraca da praia
Quando amanheceu
Porque queria com o tio andar de navio
3- João
Pulou do prédio
No Japão
Quando a terra secou
Porque passou o dia triste
1- Sansão
Voou até Marte
Onde a baleia fez uma arte
E o sol perde seu brilho
Porque anoiteceu e a lua teve um enfarte
2- Joselito
Comeu rápido sua banana
Na praia de Copacabana
Quando amanheceu
Porque queria andar de navio com Dirceu
3- João
Pulou do prédio
No Japão
Quando a terra tremeu
Porque João estava com tédio
Depois de lidas as estrofes, percebe-se que os recursos sonoros e rítmicos estão em desacordo, não há métrica nem rima, porque a construção dos versos não é visualizada como um todo, senão na hora de lê-los. O grupo então, para tornar o texto mais elaborado em sua estrutura narrativa, rítmica e sonora, procede à reescrita dos “limeriques”, agora cuidando das rimas, que ora se faziam entre o segundo, o terceiro e o quinto verso, ora se dava tanto na organização sonora dos versos, quanto na repetição das palavras.
- Sansão
Voou até Marte
Onde a baleia fez arte
E o sol perdeu seu brilho
2- Joselito
Comeu rápido sua banana
Na praia de Copacabana
Quando amanheceu
Porque queria andar de navio com Dirceu.
3- João
Pulou do prédio
No Japão
Quando a terra tremeu
Porque João estava com tédio
O que eles não podem antes, imaginar, é que ao favorecer a estrutura rítmica e sonora dos versos, seu sentido também se altera. Se observarmos as histórias de Sansão, de Joselito e de João, elas se reformulam de um “limeriques” a outro. Isto se deve também ao uso das rimas, de repetições, de aliterações. Estes recursos acabam contribuindo para que algumas ações inesperadas ocorram, para que certos fatos sejam esclarecidos, para que pessoas e objetos sejam nomeados, enfim, para que os sentidos no texto possam se renovar, possam fluir. Ao final, a leitura dos “limeriques” deve ser feita pelo grupo. Em pouco tempo, os alunos se familiarizam com as técnicas criadas, por serem elas simples e envolverem muitas possibilidades de composição.
Partindo da frase poética do poema de Oswald de Andrade “Amor/Humor”, aproveitar e introduzir os “Hai-kais” japoneses.
Partindo de uma frase poética breve, os “Hai-kais” tentam buscar uma expressão singular que possa resumir uma impressão, um conceito qualquer. A poesia japonesa não usa rima, a reiteração, mas se utiliza de muitos jogos verbais, aliterações e paranomásias – palavras que pronunciamos da mesma forma, mas que têm significados diferentes. Os “Hai-kais” expressam brevidade da palavra, a economia verbal e a objetividade. É a correspondência entre o que dizem e as palavras e o que os olhos veem. É um tipo de poesia de extraordinária simplicidade, feita com três versos, com intensa pluralidade de reflexos e grande amor pela imagem exata e sólida.
Com os “Hai-kais”, pode-se reafirmar um novo conceito, segundo o qual, o sentido atribuído às palavras não dependeria diretamente da extensão do texto, mas antes, da expressão que se busca exprimir.
Falar de alguns poetas japoneses mais conhecidos como Mtsuo Bashô, Teitamura, Teitoku. No Brasil, alguns poetas escreveram “Hai-kais”, como Paulo Leminski, Alice Ruiz, Ângela Leite, entre outros. Projetar para os alunos alguns “Hai-kais” japoneses e brasileiros.
1- Lua de estio
Se lhe pões uma mangueira
Vira um leque
2- Hora do tigre
Névoa de primavera
Também rajada
3- Em cima do penhasco
Ali também há outro
Hóspede da lua
4- Caído na viagem
Meus sonhos na planície
Dão voltas e mais voltas
1- À beira do poço
Sentei-me com um desejo:
Não perder a sede
2- Por amor à luz
Tanta mariposa tomba
Na sombra da noite
3- Meio dia
Dormem ao sol
Menino e melancias
4- Voltando com os amigos
O mesmo caminho
É mais curto
Os quatro primeiros “Hai-kais” são de Matsuo Bashô. Dos quatro segundos, os dois primeiros são de Ângela Leite e os outros dois de Alice Ruiz.
Em seguida, o professor deverá escandir um “Hai-kai” na lousa, contando as sílabas poéticas com os alunos: onde anda a lua/ nesta noite escura dentro/ do meu coração?. Depois fazer várias leituras de vários “Hai-kais”, escritos em folha de papel, passando pelas pessoas em círculo. Isso deve ser feito em uns quarenta minutos de leitura ao som de músicas japonesas: Cantos e contos do Japão. Cada aluno escolhe um” Hai-kai” de que mais gosta e o transcreve para um papel, em letras grandes com lápis de cera, sem se identificar. Os “Hai-kais” são colados na parede da sala, faz um círculo novamente. A proposta é descobrir qual foi o escolhido pelo colega. Esse dizia um sinônimo, ou uma expressão sinônima, de uma palavra-chave contida no “Hai-kai” que ele escolheu e representa a palavra sem propriamente dizê-la. O grupo tenta descobrir o “Hai-kai” escolhido por meio de sinônimos. Assim, o grupo vai falando das imagens contidas nos “Hai-kais”,não somente de forma pensada, mas também sentida.
Ao final, os alunos escrevem alguns “Hai-kais”. Eles não escrevem com a perfeição da métrica japonesa, mas empregam palavras que podem ter representado ou resumido uma impressão, um conceito subjetivo, na verdade, é aprender a escandir versos, a contar as silabas poéticas, introduzindo o aprendizado do ritmo. Outro objetivo é buscar a imagem por meio da escrita breve e reflexiva das palavras, observando sua ambiguidade, assim como vimos nos “Hai-kais”.
A partir desses jogos e brincadeiras com as palavras, que envolvem a leitura sistemática de textos, passar para outras práticas como, as de declamar textos poéticos nos diferente espaços da escola. Dizer textos na escola,não somente na sala de aula, socializa o processo da escrita de maneira mais imediata e faz com que os alunos possam atingir, mais efetivamente, o sentido do texto. Esta prática faz com que as funções da comunicação sejam amplamente possibilitadas. A comunicação do texto poético redimensiona a comunicação cotidiana da linguagem, faz com que interlocuções educativas sejam revigoradas, refeitas, restauradas em nome de uma atitude menos funcionalista, menos mecânica do ato de educar. Afinal, falar o texto, dizer o texto é agir. E, Assim pensando, como uma ação sobre a língua, poderá produzir uma ação sobre o fazer.
Essa função socializadora da comunicação poética no espaço escolar poderá possibilitar um novo tipo de “escuta” sensível. Uma vez abandonada dentro do circuito escolar, cada vez mais , a poesia acaba cedendo espaço à linguagem predominantemente conceitual do aprendizado. Tal linguagem suscita um tipo de escuta que exclui o sentido, a experiência subjetiva com a palavra e a expressão individual do sujeito.
Assim, deslocando-se do espaço da sala de aula, muitas experiências de declamação de textos poéticos nascem em diferentes espaços como : a sala de professores, a secretaria, a cozinha, o refeitório, os corredores, os laboratórios, os corredores. E, a cada sessão de declamação feita pelos alunos, outros declamadores, como funcionários, pais, professores vão-se agregando à proposta e se tornando também declamadores.
Deve ser criado o Espaço Poético. Começa pela seleção de textos a serem declamados. Uma grande variedade de textos de poetas brasileiros devem ser selecionados pelos próprios alunos na biblioteca: ( sugestão) Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Adélia Prado, Castro Alves, Paulo Leminsk, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire,Fagundes Varela, Laurindo Rabelo. Poetas russos como Maiakovki e poetas da Língua Inglesa do século XIX com Edgar Alan Poe, Edward Lear, Walt Whitman, Emily Dickinson, Lewis Carrol e tantos outros.
Para o público infantil e juvenil, os textos devem ser selecionados pelos alunos: (sugestão) Arnaldo Antunes, Luís Tatit, Elza Beatriz, Ricardo Azevedo, Manuel Bandeira, Antônio Barreto, Tatiana Belink, Luís Camargo, Sérgio Caparelli, Marina Colasanti, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Roseana Murray, Fernando Pessoa, Ferreira Gullar, José Paulo Paes entre outros.
Após a seleção, passa-se à leitura desses textos. À medida que vão sendo lidos, os alunos vão se familiarizando com eles – pelo tema, pela melodia, pelo ritmo, pelo suporte, ou pela força das palavras, que exige uma fala mais expressiva, mais gestual, ou pelo romantismo de alguns textos, ou ainda, pelo fato de o teto escolhido apelar mais para a atenção do ouvinte, chamar o ouvinte a um diálogo. Enfim, as razões da escolha vão desde o interesse pelos temas propriamente ditos até a relação afetiva emissor/texto, que, muitas vezes, torna a fala quase que uma conversa, um diálogo com o ouvinte.
Os alunos maiores encarregam-se de ler poemas infantis e contar histórias para as crianças menores. Outros grupos ficam de declamar poemas para professores, para as cantineiras, secretarias, diretora, etc. Deve ser formada na escola uma rede de declamadores.
6-Vivência
Educação física
O professor de educação física, num trabalho coletivo promove, paralelamente, algumas atividades envolvendo a música, a poesia e os jogos.
O grupo é subdividido em cinco grupos, os quais fazem as inscrições de acordo com o que gostam.
Inscrições:
- Coreografia das músicas estudadas
- Apresentação de canções feitas pelos próprios alunos: repente, RAP, Funk / (Karoquê)
- Dança de rua, capoeira
- Exposição de trabalhos sobre canções como samba bossa, samba reggae, o Pop-rock, Rock-punk, o Samba RAP ( Marcelo D2), o Samba choro, a Bossa Jazz, o Rock-reggae, o Afro-blues, o Britpop
- Divulgação na rádio escolar sobre a MPB, a Bossa Nova, o Roque
- Festival de música sertaneja
- Dramatização dos gêneros musicais estudados
- Festival de poesias
- Pintura das letras de músicas estudadas, grafitismo, desenhos
- Concurso de paródias musicais
- Festival da música
- Concurso de poesia
- Apresentação de grupos musicais existentes na comunidade ( convidá-los para apresentação na escola)
- Visita a uma escola que tem a rádio escolar
- Visita a rádio da cidade
- Festival de vídeos musicais, cantores, bandas para contextualizar diferentes assuntos de interesse dos alunos e problematizá-los
- Cinema na escola
- Criação da banda escolar
- Pesquisa no “Google” sobre cantores e letras de músicas
7- Avaliação: Portfólio
Referência:
SRE – Monte Carmelo em Encontro de Escolas de Educação Integral, promovido pela SEE-MG
Postado por Susana Lúcia do Nascimento
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